A ficção possivelmente se inspirou em fatos reais no tocante a vampiros e lobisomens, afinal “a arte imita a vida” ou, pelo menos aproveita algumas informações colhidas com um olhar esgueirado.
Vampiros e lobisomens tem um extenso curriculum de aparições em todos os cantos do mundo dentre povos de culturas diferentes. A maioria deles não tem forma humana. São deuses pagãos, monstros com aspecto de animais das mais estranhas formas.
A ficção difundiu uma visão mais ‘humana’ do vampiro. Mas de onde surgiram tantos detalhes dos sintomas de vampirismo?
A explicação mais óbvia se encontra em uma doença rara porém real, a porfíria.
O nome Porfíria vem do grego ‘Porphiros’ cujo significado é vermelho-arroxeado, justamente pelo fato dessa tonalidade ser encontrada na urina e na saliva do paciente, devido ao excesso de porfirinas e substâncias relacionadas. Seus sintomas se dão especialmente no sistema nervoso e na pele.
As pessoas temem o que não conhecem e como a porfíria foi identificada apenas no final do século XIX, não é difícil imaginar a quantidade de influência que teve no folclore. Na época seu tratamento se dava através de sangria (retirada de sangue do paciente em quantidades controladas). Para controlar essa perda de sangue, algumas famílias nobres cujos membros possuíam a doença, bebiam o sangue dos animais em seus matadouros. A doença é hereditária e tem maior incidência em caso de casamentos consangüíneos, o que era muito comum em famílias da nobreza. A doença também pode provir como conseqüência de cirrose hepática.
Existem 7 (sete) tipos de Porfíria, mas apenas duas são relacionadas a vampiros e lobisomens: Porfíria Cutânea Tarda e Porfíria Aguda Intermitente.
Cutânea Tarda:
Está relacionada diretamente à sensibilidade da pele à luz do sol e apenas adultos a desenvolvem como o termo “tarda” sugere. A exposição ao sol causa esfoliação da pele, bolhas e feridas.
Aguda Intermitente:
Ataca diretamente o sistema nervoso, pois as enzimas necessárias não são capazes de alimentar o sistema e causa perda gradual dos movimentos do corpo.
Sintomas:
Palidez
Lábios avermelhados
Pele sensível ao sol
Aumento de pelos
Espasmos vasculares na retina
Taquicardia
Fadiga
Fraqueza muscular
Alucinações
Agitação e convulsões
Saliva e urina avermelhadas
Dentes deformados
Lábios repuxados deixando os dentes à mostra como presas
Cirrose e câncer no fígado
Distúrbios nervosos
Alergia à bebidas alcoólicas, analgésicos, drogas e homônimos
Dor no estômago
Curiosidade sobre o remédio. A Hematina, remédio utilizado no combate à porfíria, é preta, densa como licor e deve ser aplicada na veia por 15 minutos, caso esse tempo seja ultrapassado o liquido começa a coagular, caso seja aplicada a mesma dosagem em menos de 15 minutos a veia do paciente estoura devido à densidade do liquido. As doses são aplicadas normalmente em número de 7, uma dose diária durante 7 dias consecutivos. A seringa deve ficar coberta, protegida da luz senão o remédio perde suas propriedades.
Lobisomens
A porfíria também pode ser associada a relatos de aparecimento de lobisomens. Segundo Goens, um lobisomem é na verdade um homem que se encontra com porfíria em estágio avançado. A doença faz com que a pessoa se isole e comece a viver como um bicho, agressivo, pele coberta de feridas e deformações e com crises de licantropia, na qual a pessoa age de forma semelhante a um lobo: anda sobre os pés e as mãos, come carne crua e ataca outras pessoas com unhas e dentes.
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